A Felicidade muda o meu Destino

liliya.jpgpor Patanga Cordeiro

Eu gosto de dar aulas básicas sobre técnicas de meditação, e, alguns dias atrás, nós espontaneamente chegamos ao assunto: fazer escolhas. Tem algo a ver com o que li em um dos livros de Sri Chinmoy. Muitas vezes, encaramos dois cursos diferentes de ação, cada um com suas possibilidades de ganhos em diferentes níveis de satisfação. Tanto quanto posso recapitular do que li, ele mencionou que algumas vezes a voz interior nos dá um sinal vermelho (pare), enquanto que os acontecimentos exteriores nos dão um sinal verde (siga) ou vice-versa. Então, perguntei aos alunos:

“Algumas vezes, obtemos sinal verde do interior e do exterior – nesse caso é fácil, basta ir! Algumas vezes, recebemos sinal vermelho de ambos – fácil também, é só parar. Mas, o que acontece se tivermos mensagens opostas?”

Isso fez a mim e também a eles pensar um pouco. Um jovem teve o mesmo pensamento que eu e foi direto ao ponto: “Seguimos o interior!” Todos concordavam.

Como um professor, pensei que podia expandir um pouco a resposta dele. Então, eu vim com esta: “Isso depende. Depende do que você quer. Se quiser se tornar um multimilionário, então talvez você não vá ter tempo para satisfazer seus apelos interiores – há tantas coisas que você precisa fazer no exterior... Mas se queremos encontrar a verdadeira felicidade, felicidade sutil, a alegria que é autocriada e que não depende de circunstâncias exteriores, então é lógico que teremos que ouvir à voz interior.”

Mas aí vem a parte complicada, como muitas pessoas presentes na aula notaram. Nós também precisamos manter nossa fachada exterior, temos que cumprir nossas responsabilidades com o trabalho, família, estudos etc. Então, não estaremos deixando isso para trás? Não há uma maneira de conseguirmos ambos? A espiritualidade moderna diz que o homem integral é o verdadeiro homem – ele não evita as suas responsabilidades nem sacrifica o seu próprio eu.

Logo, enquanto falamos, lembrei de uma de minhas experiências da época escolar. Penso que pode ser válido compartilhar aqui também.

Após o ensino médio, eu estava trabalhando seis horas por dia e decidi tentar a universidade, para ter um diploma e um trabalho melhor no futuro. Então procurei a universidade mais barata possível (além disso, meu trabalho pagaria metade da mensalidade) e comecei a estudar. Porém, após uns nove meses, decidi que queria tentar a prova para a universidade pública e gratuita.

Naquela época, havia muitas coisas que eu costumava fazer no meu tempo livre, que me davam verdadeira alegria e satisfação – música, tradução de poemas, aulas de meditação (sim, eu tinha recém começado). Então, eu não queria desistir de tudo aquilo para passar todas as noites estudando e assistindo aulas. O que eu fiz foi me inscrever num curso preparatório de um mês! Ele era super intensivo. Mas mesmo por um mês, ele me tomaria todo o tempo que eu usava para fazer as coisas que me faziam realmente feliz. Logo, eu ia apenas nas aulas principais (para mim, matemática) e algumas poucas outras. Para terem uma ideia, eu tentava estudar no ônibus para casa, no intervalo de almoço do trabalho etc. E, sempre que eu sentia que tinha algo mais importante para fazer (quando sentia uma certa felicidade me inspirando), eu simplesmente deixava os estudos de lado e fazia aquilo. Saía para correr etc.

No dia da prova, fui até lá de bicicleta e, enquanto acorrentava ela a um poste, senti muita alegria. Enquanto eu andava em direção ao prédio, sentia ainda mais felicidade. Era forte, salutar, mas ainda assim, muito sutil. Era como se um pequeno eu estivesse dançando dentro do meu coração. Não era euforia. Entrei na sala de cabeça erguida, olhando os rostos de meus colegas-alunos nervosos, que tinham estudado o ano inteiro para aquele momento e ainda lhes dirigi um sorriso tão largo, como se estivesse de férias. (estou quase rindo enquanto escrevo isto!)

Sentei à mesa como um bebê que brinca com seus brinquedos coloridos. A prova foi tranquila e eu fui um dos primeiros a terminar e sair da sala. Mas isso não é tudo.

Leva alguns dias para saber se você passou ou não, certo? (a propósito, a proporção para a minha prova era de 19 candidatos por vaga). Eu não estava esperando ser aprovado, por ter estudado tão pouco, mas ainda estava um pouco esperançoso e, de alguma maneira, um pouco ansioso para saber se tinha passado ou não.

Alguns dias depois, recebi um telefonema do curso preparatório que fiz. (de alguma forma, eles conseguem os resultados primeiro). A moça disse: “Parabéns! VOCÊ TIROU O PRIMEIRO LUGAR! Gostaríamos de fazer uma entrevista com você, para passar na televisão.” Eu estava em choque. Primeiro lugar? Mas como? Como pode ser possível? Há tantos alunos bons (eu não era), tantas pessoas realmente brilhantes (eu não era), que estudaram por muitos anos (digamos que eu estudei por quinze dias). E eu é que tenho o melhor resultado?

Como eu nunca fui um bom aluno, isso foi uma surpresa total. Realmente, levei uns três dias para chegar à uma conclusão. Foi aquela felicidade que me guiou. Foi a voz interior. Ela me levou a ser verdadeiramente eu, a fazer o que eu realmente devia fazer. E, se as coisas menos importantes tinham que ser postergadas, então aquela voz interior, de algum modo, achou uma forma de decidir por elas. Tendo estudado tão pouco e obtido o resultado máximo, não havia nenhuma maneira de que eu pudesse me convencer que “eu era inteligente” ou coisa assim. Era algo mais!

Então, esse pequeno milagre me mostrou como podemos depender da felicidade para dirigir nossa vida.

Como eu gostaria de ouvir sempre à minha voz interior!

(Talvez eu possa começar agora!)

 

Deus me diz que

Apenas uma voz-perfeição-coração

É nomeada para

Uma escolha-felicidade-satisfação.

 

- Sri Chinmoy

Twenty-Seven Thousand Aspiration-Plants, part 171, Agni Press, 1992